Opinião | Constança Santos, Regional Managing Director

Gerir em tempos de pandemia, as ameaças e oportunidades

 

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Apesar de não ser a realidade de todos, trabalho remoto não era um total desconhecido para mim, e por isso, de início não foi uma transição tumultuosa passar a trabalhar a partir de casa a tempo inteiro. Ainda assim não deixou de ser uma transição, trazendo consigo alterações significativas no dia-a-dia de gerir e interagir com clientes e equipas.

 

Em momentos como o que estamos a viver, é muito importante imbuir-me do espírito da famosa frase proferida por Winston Churchill, «never let a good crisis go to waste», com o objetivo de ter presente ambos os lados da nossa situação atual. Sim, é, por um lado, é uma situação de repleta de incertezas, mas também oportunidades. É crucial conseguirmos identificar estes pontos para traçar estratégias adequadas.

 

Nas nossas atividades direcionadas a clientes, parceiros, gestão de equipas, prospeção comercial e recrutamento, em que o normal tem muito que ver com reuniões e acompanhamento presencial, todo o contacto passou a ser feito à distância. Apresentar produtos, agendar reuniões e entrevistas e, por fim, fechar vendas são das tarefas que mais têm sofrido pois muita da nossa comunicação, capacidade argumentativa e, acima de tudo, fatores de apoio à decisão se baseavam em elementos presenciais.

 

Enquanto gestores, a única forma de ultrapassar estes novos desafios e, no fundo, transformá-los nas tais preciosas oportunidades é ajustar as nossas atividades e processos à realidade de trabalho, reuniões e entrevistas à distância. Se antes havia uma certa fobia quanto à tomada de decisão à distância, no recrutamento ou venda, a situação atual veio demonstrar que isso não só é possível como é uma questão de sobrevivência para as empresas. Estamos a subir nesta curva de aprendizagem.

 

Com esta lição, torna-se inegavelmente aparente que os processos de vendas e recrutamento podem ser realizados remotamente, no mercado nacional e em mercados internacionais, abrindo-se novas portas (ou janelas?) para a concretização de vendas. Estas são as oportunidades que vejo surgir. Com uma maior confiança generalizada no desenvolvimento de trabalho remoto é possível que vejamos nos próximos tempos um aumento de equipas em nearshore, uma potencialidade com muito interesse para setor de IT em Portugal.

 

Do outro lado desta pandemia, irão emergir empresas e profissionais mais ágeis e com uma maior eficiência e assertividade em processos remotos, um processo que anteriormente prevíamos estar ainda a anos e anos de distância.

 

A nível interno, o grande desafio está em implementar a utilização generalizada de ferramentas que permitam às equipas criar novos conceitos de companheirismo e camaradagem, sejam formais ou informais, pois distanciamento não precisa de ser sinónimo de isolamento. É vital para a criatividade e produtividade de indivíduos e equipas, possuir canais que permitem às pessoas comunicar entre si, cooperar de forma fácil e organizar o trabalho colaborativo.

 

A nossa nova realidade de trabalho também apresenta benefícios relevantes para a organização interna das empresas. Muitos falam de um incremento da sua produtividade pois, por exemplo, já não perdem tempo com deslocações casa-trabalho-casa, mas como este não é um ponto consensual por inúmeros outros fatores, não será o foco.

 

Existem, no entanto, outras áreas como o desenvolvimento das habilidades digitais necessárias nos vários departamentos de uma empresa, nas quais estes benefícios são simplesmente incontestáveis. Todos tivemos que embarcar nesta transformação digital, a uma velocidade superior à desejada em muitos casos, mas o resultado final será uma evolução permanente e necessária do nosso entendimento de trabalho e produtividade.

 

Cada vez mais estamos a progredir para uma realidade em que as empresas «achatam» as suas estruturas hierárquicas e promovem a motivação e responsabilidade individual através do aumento da flexibilidade no trabalho, sem que isso comprometa os seus resultados.

 

Tendo em conta todos estes desafios, e oportunidades por estes geradas, o fundamental para quem está por um lado a gerir equipas e por outro negócios e relações com clientes é não esquecer que a parte mais importe são realmente as pessoas. E as pessoas não são todas iguais, é mais que sabido.

 

Face a alterações tão profundas no quotidiano, pessoas diferentes irão ter ritmos diferentes de adaptação assim como expectativas vastamente diferentes quanto à eficácia das novas dinâmicas de trabalho remoto. Cabe aos gestores tentar acompanhar cada um: cliente, colega ou colaborador, a cada passo. Sejam os nativos digitais que nunca mais querem voltar ou escritório ou quem mal pode esperar pela hora de regressar à rotina pré-COVID19.

 

 

 

 

 

Acerca da autora | Constança Santos, Regional Managing Director

 

Regional Managing Director na IT People Innovation, Constança Santos lidera atualmente o desenvolvimento de negócio da empresa na região norte. Com este foco, fortaleceu o gosto pelo trabalho com pessoas dentro das áreas de outsourcing e nearshore de IT, onde a retenção e desenvolvimento do talento é vital e está presente no dia a dia.

Licenciada em Gestão de Sistemas de Informação Multimédia e com um MBA, acumula já cerca de 15 anos de experiência nesta área, onde os desafios humanos exigem tanta inovação quanto os tecnológicos. Foi na IT People Innovation que encontrou a cultura encorajadora e a estratégia coesa para enfrentar estes desafios diários com novas abordagens.